O último cigarro da noite

O objecto era apenas uma metáfora... O cigarro na sua boca, o fumo que expirava pelas narinas, todos os seus movimentos eram apenas expressões da sua raiva interior. Quando havia uma discussão, um cigarro acendia-se... quando haviam berros, um cigarro acendia-se... quando haviam portas a bater, um cigarro acendia-se...
Este seu cigarro era a forma de se acalmar, uma forma que poderia acabar por a matar, mas a verdade é que a acalmava... Poderia ser o seu último cigarro, a sua última raiva, o seu último desespero, mas era certo que acabaria por a acalmar...
O rio havia transbordado, o bandido havia pisado o rio e caminhado sob o chão acabado de lavar pela mulher desesperada, e a mulher (que neste caso era a vítima) soltou o seu último berro abafado pelo fumo do cigarro. Foi o último! CORRECÇÃO: Foram os últimos! Os últimos berros, os últimos gestos, as últimas lágrimas, as últimas chamas... E, como sempre, um cigarro acendeu-se. Mas, desta vez, nem o seu cigarro a acalmou... Na verdade, a nicotina que escorri pelas suas veias a transbordar de petróleo aumentava cada vez mais a sua raiva.
E este foi o último episódio, o último desespero, a última raiva, o último cigarro.... O último cigarro da noite.
   Esperava eu...